Aí você pergunta: “E como os mageenses vêm e vão?”
Eu queria poder dizer “Simples, caro leitor”, mas infelizmente não é bem assim. Para entender o caos, é preciso pensá-lo por partes. Neste caso, vejamos a situacão de cada meio de transporte específico.
Em Magé existem três meios de transportes legais (Taxi, Ônibus e Trens) e outros “alternativos” (Kombis/Vans e Moto-taxis).
(Foto: Confusão diária no ponto dos taxis - Centro de Magé, Julho 2008)
Ao contrário do que ocorre em cidades maiores, os táxis em Magé não são muito populares e também não seguem tabela de preços pré-estabelecida. O valor da corrida varia de acordo com o local, o horário e talvez o papo do cliente.
Para complicar a situação dos taxistas legalizados, eles ainda disputam mercado com as Kombis/Vans e bandalhas – carros particulares usados para transporte de passageiros.
Por conta da concorrência desleal (bandalhas cobram entre R$1 e R$3 em média, e as Kombis/Vans algo em torno de R$ 1,50/R$ 2,00 por viagens municipais), muitos taxistas fazem transporte barateado, principalmente de pessoas que saem dos supermercados.
A noite, a corrida varia de acordo com o local (por causa da distância e falta de ônibus). Ir para locais como Mauá, por exemplo, pode custar até (ou mais de) R$ 50 do Centro. Além disso, muitos não fazem corridas depois de determinado horário.
Trens
Foto: Estacão da Guia de Pacobaíba (Mauá), a primeira do Brasil. Clique na foto para ver a origem.
Apesar de ser o berço da Primeira Estrada de Ferro do Brasil (foto), Magé parece ter sido esquecida nos pouquíssimos investimentos feitos pelo Governo do Estado para melhorias do transporte ferroviário.
Um ramal e um corredor atravessam o município, ambos vindos da Estação de Saracuruna (de onde pode-se chegar ao Rio de Janeiro). O Ramal Guapimirim tem 10 de suas 15 estacões na cidade, entre elas a do Centro. O corredor da Vila Inhomirim liga Saracuruna à Piabetá.
Nenhuma das linhas são elétricas. Há o Programa Estadual de Transportes que prevê a possível eletrificacão da via permanente Saracuruna-Guapimirim, mas este plano ainda não saiu do papel.
O trem seria uma opção mais rápida, segura e barata para os moradores do município chegarem ao centro do Rio.
Em 2007, apenas um trem de mais de 50 anos fazia o transporte entre Magé e Saracuruna. Os horários eram bem cedo na manhã e bem no finzinho da tarde. A média de passageiros deste ano (até Maio) é de aproximadamente 650 por dia no ramal Guapimirim e poderia ser mais. Magé tem quase 240 mil habitantes e destes, a maioria trabalha fora do município.
Foto: Estação de trem no Centro de Magé - A antiga em 1o plano, e a plataforma "nova" ao fundo
Por email, a Assessoria de Imprensa da Secretaria de Transportes do Rio de Janeiro informa que as melhorias do ramal Saracuruna-Guapimirim estão previstas para este mês (Setembro). Dezessete quilômetros da linha serão recuperados e o orcamento para estas obras está previsto em pouco mais de R$ 7,5 milhões. A licitacão para definir a empresa já foi realizada e só falta a assinatura do contrato.
Há a possibilidade de eletrificacão do trecho. A concessão do ramal está sendo pensada e a empresa concessionária seria a responsável por colocar trens elétricos na via.
Ônibus
A discussão do momento na cidade é sobre a falta de ônibus rodando pelo município. Esse problema é mais antigo e vem antes mesmo do transporte alternativo começar a circular na cidade.
Entre as décadas de 1980 e 1990, o transporte mageense se resumia em três maiores empresas: Luxor (Sentido Rio/Duque de Caxias/Petrópolis), Rio Minho/Expresso Rio de Janeiro (Sentido Alcântara/Niterói) e Primavera (foto) (Linhas Municipais e Regionais, como Guapimirim) .
Foto: Ônibus antigo da empresa primavera. Clique na foto para ver o site original.
Também havia (e ainda há) a Trel, a Transportes Machado e a União, operando entre Piabetá, Mauá, Duque de Caxias e alguns bairros suburbanos do RJ (como Penha).
Das três primeiras, apenas a Rio Minho/Rio de Janeiro (empresas da gigante Rio Ita) continua explorando as linhas daquela época.
Nos anos 1990, a empresa Primavera deixava muito a desejar. O transporte alternativo da segunda metade da década foi a pá de cal: más administracões, desvio de dinheiro, as más condicões das vias municipais e frota que quebrava o tempo todo na pista ajudaram a sucatear a empresa que, logo depois, abriu falência (por volta de 2003-2004).
Depois disso, a situacão ficou ainda mais complicada.
Uma empresa do Nordeste, como parte de um plano emergencial, ocupou o espaco da empresa nas linhas municipais durante o governo Narriman Zito (2000-2004), mas não conseguiu dar conta. Pouco depois, a empresa Reginas, de Caxias, assumiu as linhas e permanece até hoje.
No entanto, a Reginas (foto) (que já havia ocupado as linhas intermunicipais da Luxor) foi criticada por aumentar o valor das passagens intermunicipais alegando que o pedágio era muito alto. Nas linhas municipais, a empresa diminuiu a frota e prejudicou o transporte de moradores de bairros mais distantes do Centro e de Piabetá, entre eles Mauá, Suruí e muitos outros.
A alegação: a exploracão das linhas pelo transporte alternativo (e nem sempre legal) das Combis/Vans.
Combis/Vans e Moto-Taxis
Foto: Passageiros esperam a saída da Combi em Piabetá - Julho 2008
É difícil falar quando o “transporte alternativo” começou na cidade e o porquê de ter vingado. Mas o fato é que hoje, para muitos, as Combis e Vans são o principal meio de transporte do município, tanto para linhas municipais quanto para outras cidades.
Eu trabalhava em Piabetá por volta de 1996-97 e já haviam algumas combis fazendo a linha Magé-Piabetá. Vans maiores também começavam a explorar a linha Magé/Piabetá – Central.
Em pouco tempo, com os planos de crédito e empréstimos, mais pessoas resolveram explorar esta mina de ouro. As empresas de ônibus já não davam conta: muitos passageiros alegavam que as combis eram mais rápidas e confortáveis.
Foto: Combi estacionada na Rodoviária. Tomando o lugar dos ônibus?, Julho 2008
Já estabelecidas, as combis/vans eram tantas que supriam as deficiências das linhas municipais mais populares – Magé-Piabetá, Piabetá-Ipiranga (mauá), entre outras –, intermunicipais – Central, Penha, por exemplo – e mesmo de bairros menores – Lagoa (Centro).
Por sua força, viraram trampolim político. Narriman e Nubia prometeram legalização em suas campanhas para seus mandatos. As Combis foram amarelas e azuis no tempo da Caxiense e, em tempos de Núbia, brancas com listras.
Foto: Propaganda política irregular arrancada de Vans - 2008 (Jornal Extra)
O número de vans e combis rodando no município diminuiu consideravelmente nos últimos anos. Ainda assim, são muitas e representam uma forte concorrência para as empresas de ônibus.
Os moto-taxis operam principalmente em Piabetá e representam muito pouco, além de serem perigosos: muitas motos estão em estado precário e alguns dos pilotos não são habilitados.
O pesadelo de ir e vir em Magé
Eu, por exemplo, já dependi de carona de caminhoneiro para chegar à Mauá por não haver ônibus depois das 21 horas. E isso foi há quase 15 anos! Também já dormi na praca de Piabetá esperando o 1o ônibus pra Magé depois de curtir a festa de Sant'Anna. Já perdi dia de serviço em Piabetá porque o ônibus que eu peguei quebrou na pista. Isso tudo antes das vans.
A verdade é que sempre foi um inferno ter que depender de ônibus e outros transportes na cidade. E hoje, infelizmente, as coisas parecem que pioram a cada dia, por mais difícil que pareça.
E você, mageense, qual a sua história triste?
Ou melhor, o que poderia ser feito para melhorar?
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